domingo, junho 29, 2008

Amor então é?
essa mistura de cheiros e gostos
e gestos e toques e desejos
esse cruzar de pernas que se querem
e esbarrar de bocas que se beijam
em muitos e diversos
ângulos magnéticos

Amor então é?
esse badalar de sinos,
gemer de corpos
contorcionismo e jogar de cabelos
no gozo preciso sobre a paixão do amante
esse querer de novo sempre pedir mais
inventar novas formas de se devorar
e explorar o terreno almejado que é o outro

Amor então é?
o fim disso tudo, suada separação
na entrega suave do abraço
ou mesmo no ir embora
deixando apenas um vazio

(pedro tostes)

sexta-feira, junho 27, 2008

ISSO É UM FATO

na companhia de tolos
nós relaxamos ematerros ordinários,
apreciamos comida ruim,
bebida barata,
conhecemos homens e
mulheres do
inferno.

na companhia de tolos
jogamos os dias fora como
guardanapos de papel.

com essa companhia
nossa música é alta e nosso
riso
falso.

não temos nada a perder
além de nós mesmos.

junte-se a nós
nós somos agora
quase que
todo o
mundo.

Deus nos
abençoe.

(C. Bukowski)

quarta-feira, junho 18, 2008

cicuta

no arroz-feijão
de cada dia

sempre estar de novo
sem sintonia

cada hora passar mais lenta
vertiginosa

as portas se sucederem num labirinto
sem sentido direção

o sol nascer mais tarde nessas manhãs
estranhas do inverno

longas noites fechadas nas paredes camas lençois estrelas
angustiantes

estável desespero respirável ar denso
quase em desconforto
alinhavado nas ranhuras
da alma posta

as pilulas não preenchem
o vazio o estranho o cinzeiro a poeira
que insistem em se esconder
nos cantos do armário
lacrado

tensa retesa verdade
vidro de aquário cárcere
diante do grande público
insistente em aplaudir
enquanto admira vísceras
expostas ao seu deleite
poema

cicuta

sábado, junho 07, 2008

MAIS UM DIA

Deambulo.
Não sei
aonde estou?
quem sou?
Não há nexo.
Descortino.
Nada muda.
Os lugares
iguais.
Escuto música
de ontem.
Sem cores.
Sem luz.
Sentido.
Nem percebi
o sol nasceu.
Ele morreu.
Não consigo
ler jornal.
Tenho medo.
Todo dia.
Acordo, durmo.
Como, bebo,
vivo?
Incerto.
Paradeiro insano.
Não conheço
este lugar.
Minha casa.
Saudade.
Não existe.
Não entendo.
Vida.
Estar?
Eu dobro uma esquina
eu faço um poema.
Eu surto. Eu piro.
Eu sinto coisas
estranhas,

eu sinto.

quarta-feira, junho 04, 2008

SINTONIA PARA PRESSA E PRESSÁGIO

Escrevia no espaço.
Hoje, grafo no tempo,
na pele, na palma, na pétala,
luz do momento.
Sôo na dúvida que separa
o silêncio de quem grita
do escândalo que cala,
no tempo, distância, praça,
que a pausa, asa, leva
para ir do percalço ao espasmo.

Eis a voz, eis o deus, eis a fala,
eis a luz que se acendeu na casa
e não cabe mais na sala.

(Paulo Leminski)

domingo, junho 01, 2008

KY

a vida é dura
não tem caô
e nem ka-ypsilon