quarta-feira, outubro 08, 2008

no país das lasanhas congeladas.

dias duros este de selva, duro sobreviver confinado neste meu bunker. as provisões rareiam, andam escassas. no momento a geladeira exala espaços vazios e dentro do armário apenas arroz e uma lata de molho de tomate. isso me obriga a sair da ostra à caça de alimento.confiro o uniforme: camiseta, bermuda, sandálias. meu veículo de muitos cavalos velhos e mancos está pronto para o ataque enquanto eu procuro as chaves. acho e antes de sair confiro se levo comigo a única arma que tenho para esta caçada: o cartão.

enquanto estaciono meu carro na savana-mercado tomo fôlego e me preparo para a dura missão de garantir a sobrevivência. armo-me de um carrinho e entro no antro de onde terei de sair vivo e com o meu combalido saldo bancário ileso. de cara sou jogado na seção das grandes-necessidades-urgentes-que-eu-deveria-possuir. nada que não possa ser superado com um pouco de vontade e uma estratégia de apenas olhar para a frente. saio inteiro mas logo sou ludibriado por uma miragem-oasís, com uma enorme carta de vinhos disponíveis, whiskyes de primeira, tequila, conhaques, cachaças e refrigerantes. mas um olhar atento revelou que nada daquilo era real, eu não tinha muito mais que 20 mangos pra gastar, e que mesmo uma garrafa de coca-cola seria demais. levei dolly.

até aquele ponto eu me saí bem, mas logo eu teria de passar pela terrível seção das porcarias gostosas. doces, isoporitos, biscoitos e laricas afins, terríveis tentações que corroem qualquer orçamento mas especialmente cruéis após um baseado. tenso, eu passava fingindo ignorar a terrível ameaça que me circundava até que fui surpreendido e atacado por uma promoção de biscoito de chocolate vitaminado por apenas 99 centavos. na jugular. enquanto segurava um pacote, precisei de muito esforço para conter a sangria de despesas que seria aquela missão se eu caísse em tentação. mas resisti e continuei focado em minha difícil caçada.

após isso cheguei aos laticínios e cereais, aonde consegui caçar um litro de leite com soda caustica, um saco de farinha de rosca (pra fazer farofa) e feijão. aquilo havia deixado meu saldo bastante exaurido, mas apertei o cinto e consegui chegar até a seção de carnes e congelados. não tinha mais muita munição, portanto precisaria ser certeiro na fase final desta empreitada.

afinal, o paraíso, a área mais aberta de onde se tinha uma ampla visão e espaço para respirar. ouvia o canto das sereias sair de dentro das geladeiras de sorvete ou mesmo de deliciosos queijos caros. distraidamente acabo parando no país das lasanhas congeladas. molho branco. quatro queijos. bolonhesa. vegetariana. presunto e queijo. todas ali, prontas para serem colocadas no microondas ou forno e serem glutonamente devoradas, sem maior esforço. no entanto, logo caio na real e vejo que o preço, sempre ele, se impõe e me veta este delírio consumista. compro meio quilo de carne moída, cebola, alho e pimentão pra fazer um refogado com a lata de molho de tomate e volto ao meu carro e à minha realidade.

4 Notas:

Blogger Luciana F. Righi said...

Sem comentários. Senti....!!

8:14 PM  
Anonymous joao pedro fagerlande said...

bom rever tua escrita desgarrada

2:20 AM  
Anonymous Anônimo said...

hehe pedro, a primeira coisa que eu escobri quando morava sozinha é que chocolate hershey's são baratos e deliciosos! além de substituirem fácil um almoço!
e ninguem vê ou se importa se você comer um tablete inteiro dentro do seu apartamento igual a um búfalo hehe!

2:36 AM  
Anonymous Anônimo said...

"Survival mode", senhoras e senhores!
Descreveu o trágico cotidiano de muitos caçadores da selva de pedra.

Excelente texto!

10:12 AM  

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